Antonio Cottas nasceu em Sirvuzelo,
Monte Alegre, Portugal, em 19 de novembro de 1892, migrando para o Brasil em
1905, onde veio a desencarnar, na cidade do Rio de Janeiro, em 12 de junho de
1983.
Sede do Racionalismo Cristão no Rio de Janeiro foi construída por Antonio Cottas |
Mas não foi fácil
o caminho percorrido por Antonio Cottas até chegar à culminância, que foi
assumir a Presidência de uma Doutrina como o Racionalismo Cristão, que tem
aquela grandeza majestosa das realizações humanas voltadas para as virtudes
cristãs.
No Brasil desde os
12 anos de idade, os primeiros passos do jovem Antonio Cottas neste País foram
difíceis, passando por severas privações, que, ao invés de abatê-lo, só
serviram para caldear sua vontade de vencer na terra que elegera para viver.
Nesses dias tão difíceis o espírito valente, do lutador intimorato que era,
mostrou a fortaleza que possuía. Aproveitava os momentos de folga no trabalho
de caixeiro, como assim gostava de referir-se à sua primeira atividade, para
estudar, já que não tinha condições para frequentar uma escola, adquirindo,
dessa forma, os conhecimentos necessários para o seu crescimento intelectual.
Tornou-se, por esse caminho – o mesmo que trilhara Luiz de Mattos –, um
autodidata por excelência, e, com isso, cresceu intelectualmente, chegando ao
sucesso no campo profissional a que se dedicou.
Na Presidência do
Racionalismo Cristão, alcançada por alto valor pessoal, pela dignidade,
honradez e pelo declarado espírito de renúncia aos objetivos de ordem material,
Antonio Cottas merecia a admiração de um número cada vez maior dos que se
honravam de privar da sua amizade.
Esse lamentável
episódio mereceu então ampla divulgação na imprensa, e o jornal A Noite, do Rio
de Janeiro, em sua edição de 4 de dezembro de 1943, assim ao mesmo se referiu:
"Vítima de
uma campanha de descrédito e ataques de uma plêiade de dissidentes, Nascimento
Cottas viu seu nome enxovalhado, arrastando-se o processo instaurado rumo ao
Tribunal de Segurança Nacional, enquanto uma iníqua atitude levava os
descontentes a insuflarem desconfianças e a veicular contra o indigitado uma
série contínua de cartas anônimas e insultuosas.
Nascimento Cottas,
porém, sereno e confiante na Justiça da Terra, porque da espiritual não se
julgava devedor, aguardou tranquilo o pronunciamento do Egrégio Tribunal,
afastando-se da direção da casa que ficou entregue ao vice-presidente, Sr.
Roberto Dias Lopes.
Roferido o
veredictum final pelo Tribunal de Segurança Nacional, que concluiu por uma
absolvição unânime, movimentaram-se os membros da Diretoria para, com outros
amigos que tinham ficado solidários com o presidente perpétuo, levarem a cabo
uma solenidade de desagravo, cuja imponência valesse também, pelo seu
significado intrínseco, por sua ampla e completa reparação".
Sobre o fato, o Capitão-de-Mar-e-Guerra
Oscar de Barros Cavalcanti proferiu discurso durante a solenidade promovida
pelos amigos de Antonio Cottas, conforme constante em Consagração da Verdade,
p. 57-58, obra editada pelo Centro Redentor (1943):
"À calúnia
vil e torpe, que não escolhe vítima, não escapou o nosso Presidente.
Há duas criaturas
a quem a calúnia não dá tréguas: ao homem de talento e ao homem virtuoso. Ter
talento é ter inimigos. Pensar, criar, doutrinar, enaltecer é fazer um mal sem
limites aos medíocres e desfibrados. A calúnia tem horror à virtude. Para os
desfibrados a virtude alheia é como uma chicotada que lhes abre lanhos nas
faces.
Mas, quem, como o
nosso Chefe e grande Amigo, teve a felicidade de subir lutando, acostumado a
desbravar, sorrindo, todos os empecilhos da existência, a afrontar perigos sem
olhar a qualidade do adversário e não lhe medir a envergadura e a importância,
à moda de Luiz de Mattos, sempre com a consciência tranquila, não dá atenção
àquilo que da miséria humana lhe venha atirado à face".
A consagradora
vitória judicial, solenizada pela manifestação de apoio, só veio a confirmar as
altas qualidades morais extraordinárias e o caráter incorruptível de Antonio
Cottas, o batalhador infatigável pela causa do Bem, detentor de contagiante
entusiasmo e confiança no sucesso, como assim restou demonstrado no episódio de
1943, em que levou de vencida seus vis detratores.
Homem extremamente
simples que era, na alma de Antonio Cottas não havia lugar para qualquer sorte
de vaidade, o que não impedia que se sentisse honrado em razão das numerosas
comendas com que foi agraciado, como o honorífico título de Comendador, em
relação ao qual fazia questão absoluta de não ser objeto do tratamento
correspondente. De uma coisa, no entanto, se envaidecia e era manifesta no
orgulho, que demonstrava, da cidadania brasileira, adquirida em razão de
oferecimento feito pelo Governo do Brasil, em 8 de agosto de 1939.